É assustadoramente interessante parar por um segundo para observar as coisas e perceber que a sociedade é algo complexamente simples. O tempo é algo extremamente relativo, e já não é de hoje que se estão em foco as teorias das realidades paralelas, explicando que o agora acontece em várias outras dimensões. Como se a mesma cena acontecesse ininterruptamente, as coisas por si só se copiam, e nunca param de acontecer. Assim encontramos duramente a harmonia do tempo, onde presente, passado e futuro convivem num mesmo pote.
Se partirmos do pressuposto que o supracitado seja em sua maioria uma verdade, mais fácil é entender que o que vivemos hoje não é nada mais do que uma cópia repaginada do já vivido anteriormente. Atualmente a sociedade está dividida em alguns blocos, o que interessa neste exato momento é entender que existem os acomodados perante as situações e os que se revoltam (entendam esta palavra como uma mera imagem não tão nítida do que no passado representava) e tentam fazer algo para mudar o universo ao redor. Mais interessante do que isso é perceber em que ponto exatamente a história se repete.
Séculos passados o mundo conheceu uma nova classe da sociedade. A burguesia. Esta não tinha nascido com sangue nobre, então por eles era rejeitada, entretanto possuía mais bens do que os plebeus, logo, era uma classe que se destacava desta. A burguesia se consolidou vivendo no meio termo entre o nobre e o plebeu. Voltada contra a Igreja, essa nova classe começou a ser vista com um ar rebelde, e buscou durante muito tempo seu lugar entre os nobres. Mas como lutar para conseguir direitos sem sujar as mãos. Simples, usa-se quem tem menos instrução e menos poder. E como fazer isso? Tão simples quanto a primeira: basta afagar a esperança de quem deseja conquistar um lugar melhor, meche-se como a esperança de uma classe que é oprimida e explorada. A esperança nunca morre, o que, em alguns casos, é bastante prejudicial.
Depois de conhecida essa breve passagem da história, fica mais simples de se falar sobre a situação da sociedade contemporânea. Ainda temos os mesmos nobres, que não mais usam coroas, cetros e nem se tingem de vermelho para esfregar sua nobreza da cara dos outros, mas sim temos a nobreza que se estampa na capa da Caras e trata as demais classes com um detestável tom de nojo. Ainda hoje a elite tem aulas de etiqueta, e o que é mais engraçado: pelo mesmo motivo de séculos atrás, separar quem tem sangue puro de quem não tem.
Ainda temos os mesmos plebeus, mais castigados e em maior número. Quanto a eles não é necessária muita explicação. Afinal, são eles que rendem pontos de audiência para as medíocres emissoras de televisão, ora sendo protagonistas de programas onde se explora a desgraça alheia, ora grudados na frente do aparelho como números para os índices de audiência.
Mas o que ainda mais chama a atenção nesse contexto é a classe burguesa, que ainda existe e mantém a mesma cabeça desde que surgiu. Convivemos hoje com burgueses que gritam palavras de protesto, mas que após as passeatas limpam seus rostos e se embrenham pelos bairros mais nobres da cidade e se fecham dentro de um casulo onde não existem classes sociais inferiores. E pelo mesmo motivo de antes, somente com a mudança natural que o tempo traz. Os burgueses de hoje querem estar entre a nobreza, eles querem estampar a capa da Caras.
E como não poderia ser diferente, essa nova burguesia usa as classes que estão abaixo deles para fazer as revoluções que trarão benefícios somente para a classe burguesa. A máxima “na guerra e no xadrez, vão primeiro os peões” tem absurdo valor. A nova classe burguesa veste seu all star, faz cara de descontente e manda os plebeus para a rua, para sofrerem por eles.
Em meio a incríveis avanços tecnológicos é deplorável analisar que ainda vivemos numa sociedade retrógrada que não consegue nem sequer se reinventar, assim, estamos fadados a aceitar que a sociedade anda em círculos e volta sempre para o triste ponto de que veio.
Ou não. Desde haja o interesse das classes baixas de fazer uma luta por si só. Sem intermédio de burgueses. Só falta essas classes perceberem isso, mas falta a cultura. E falta o interesse das outras classes de fazer com que essa cultura chegue aos plebeus de hoje em dia.
A pior invenção da humanidade foi a civilização.